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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Funeral de um lavrador


" [...]— Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
— é de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
neste latifúndio.
— Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
— é uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
— é uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
— é uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca. [...]"
João Cabral de Melo Neto. Morte e Vida Severina (auto de Natal pernambucano), in Morte e Vida Severina e outros poemas para vozes.

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