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domingo, 31 de janeiro de 2010

As aulas estão começando


Mais um ano acadêmico pela frente. Farda nova, nova mochila, novos cadernos, e... Novos amigos.
Amizade é sempre bom, mas cuidado com as cópias. Lembre-se, cada um tem o seu estilo. E as diferenças somam nas equipes. Pois há a integração de conhecimentos diversos. Por isso não copie nem se deixe copiar, pois nada mais chato de que alguém querendo ser igualzinha a gente. Falando como a gente fala. E até gostando do mesmo garoto. Olha o mico! Não dá né! É de perder a paciência.
Saiba que quando uma garota copia a outra, muitas vezes é crise de identidade ou falta de referências pessoais. Portanto, um problema. Imitar é limitar-se...
Seja você mesma e as pessoas vão gostar de ti. Ache seu próprio estilo. Não há nada de errado em se inspirar no look de outra pessoa, mas copiar é lamentável. Você se inferioriza exibindo gostos que não são os seus.
Seja você mesma. Assim, ficará muito mais feliz.

Para você!


A prosperidade dos ímpios faz duvidar da justiça de Deus, mas o fim deles a demonstra


Salmo de Asafe


“Verdadeiramente, bom é Deus para com os filhos de Israel para com os limpos de coração. Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que se escorregassem os meus passos. Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios.”
Salmo 73. 1-3

Deus é bom, verdadeiramente bom, mas nem sempre enxergamos a bondade de Deus em nossa vida. E nos pegamos, muitas vezes, a contemplar a felicidade do ímpio, como se aquilo fosse bom e agradável ao coração do homem.
Asafe, homem temente a Deus, também esteve atribulado. Diante dos seus conflitos e dificuldades, via a prosperidade dos maus, sua soberba, malícia e arrogância, e se perguntava: Por que prosperam os maus?
Muitas vezes você também faz a mesma pergunta, pois desejava tanto àquele cargo na sua empresa, e vê outro ocupando- o. Você também se questiona, pensa até em deixar de ser crente. Seus pés quase resvalam.
Asafe se questionava: “Eis que estes são ímpios, e prosperam no mundo; aumentam em riquezas” Salmo 73.12

E chega a blasfemar: “Na verdade em vão tenho purificado o meu coração; e lavei as minhas mãos na inocência. Pois todo dia tenho sido afligido, e castigado cada manhã.” Salmo 73.13-14

Você também faz a mesma pergunta: Senhor, por que eles são ímpios, não temem o Senhor e prosperam? Sente vontade de desistir. Assiste a “alegria” de suas festas. Pensa: Eles parecem mais felizes, mais bonitos que nós.
É. Apenas parecem.

Perceba que o salmista quando chega nesse momento do texto está tão angustiado, que diz o quanto é doloroso chegar àquela conclusão. “Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso” Salmo 73.16
Mas na igreja recebe a resposta de Deus:

“Até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles. Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição. Como caem na desolação, quase num momento! Ficam totalmente consumidos de terrores. Como um sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, quando acordares, desprezarás a aparência deles. Assim o meu coração se azedou, e sinto picadas nos meus rins” Salmo 73.17-21

Só então tem a revelação: "Assim, me embruteci e nada sabia era como um animal perante ti.
Salmo 73.22
Asafe e nós, muitas vezes, não compreendemos o trabalhar de Deus em nossas vidas, mas observe o que nos diz Paulo:

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parece loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo. I Coríntios 2: 14-16

Quando estamos distantes de Deus nada compreendemos. Estamos como Adão e Eva nus. Assim estava Asafe, somente no santuário diante do Senhor, confessando os seus pecados pôde envergonhar-se de seus pensamentos, pedir perdão e voltar a ter comunhão com Deus.

No final do Salmo percebemos o reconhecimento, agradecimento e louvor desse homem, que já não estava atribulado, mas cheio de Deus.
“Todavia, estou de contínuo contigo; tu me seguraste pela mão direita. Guiar-me-ás com o teu conselho e, depois, me receberás em glória. A quem tenho Deus no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração e a minha porção para sempre. Pois eis que os que se alongam de ti perecerão; tu tens destruído todos aqueles que, apostatando, se desviam de ti. Mas, para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no SENHOR Deus, para anunciar todas as tuas obras.” Salmo (23-28).

Queridos irmãos, o Senhor é e sempre será a nossa força. O justo viverá pela fé. Em Mateus 6.26-27 o próprio Jesus nos diz: “Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?”.

Quando estiver atribulado, lembre-se desse hino:

“Porque te abates, óh minha alma. E te comoves perdendo a calma. Não tenhas medo, em Deus espera. Porque bem cedo Jesus virá.”

Não adianta tentar entender os mistérios de Deus com a mente humana, nem desvendá-los com os olhos carnais. O segredo é nos prostramos diante do seu altar.

O homem que não serve a Deus pode até prosperar. Mas isso é passageiro. Leia o que diz Provérbios 14.32 “O perverso é derrubado pela sua malícia, Mas o justo, ainda morrendo, tem esperança.”
Não se preocupe aquilo que Deus separou para você é seu. Você só não sabe o dia e a hora em que vai tomar posse. Isso só o Senhor sabe. Confia e espera com paciência no Senhor.
Glória a Deus.


Que a graça e a paz de nosso Senhor, Jesus Cristo, esteja com todos. Amém.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Letícia a pequena da titia


Para você!


Você se pergunta por que tanto mal sobre a terra?

(Paulo, servo de Jesus Cristo)


A IDOLATRIA E DEPRAVAÇÃO DA HUMANIDADE (Romanos 1)



18 Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça.


19 Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.


20 Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis;


21 porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.


22 Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos,


23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.


24 Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si;


25 pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém.


26 Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza;


27 semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro.


28 E assim como eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm;


29 estando cheios de toda a injustiça, malícia, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, dolo, malignidade;


30 sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pais;


31 néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, sem misericórdia;


32 os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam.


"Ao único Deus, sábio, seja dada a glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém!" ( Romanos 16.27)

Conto - Restos de carnaval - Clarice Lispector



Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este
me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras
de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos
de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu
cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão
extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que
viesse o outro ano. E quando a festa ia se aproximando,
como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se
enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa
escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim
explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes
humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era
secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava.
Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam
fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas
11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde
morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas
coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com
avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um
saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque
sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que,
mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo
sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital
e necessário porque vinha de encontro à minha mais
profunda suspeita de que o rosto humano também fosse
uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada,
se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava
no contato indispensável com o meu mundo interior, que
não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas
de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com
os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com
minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para
carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs
para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam
tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos
frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três
dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser
uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma
infância vulnerável – e pintava minha boca de batom bem
forte, passando também ruge nas minhas faces. Então
eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão
milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me
fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que
a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha
e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso
comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa,
com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma
flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia
tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel
crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente
que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado:
sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga –
talvez atendendo a meu apelo mudo, ao meu mudo
desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que
sobrara papel – resolveu fazer para mim também uma
fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele
carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que
sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade.
Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha
amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia
usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se
derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas
– à idéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos
nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na
rua, morríamos previamente de vergonha – mas ah! Deus
nos ajudaria! não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia
só existir por causa das sobras de outra, engoli com
alguma dor meu orgulho, que sempre fora feroz, e aceitei
humilde o que o destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único
de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo
no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até
de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não
passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram
três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel,
eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas,
eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender
agora: o jogo de dados de um destino é irracional?
É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom
todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem
batom e ruge – minha mãe de súbito piorou muito
de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa
e mandaram-me comprar depressa um remédio na
farmácia. Fui correndo vestida de rosa – mas o rosto ainda
nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão
exposta vida infantil – fui correndo, correndo, perplexa,
atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval.
A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se,
minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa
tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia
lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas,
eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo
uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era
uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados.
Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar
alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave
de minha mãe e de novo eu morria.

Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa
agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar.
Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava
um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim
e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira
e sensualidade, cobriu meus cabelos, já lisos, de confete:
por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem
falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo
resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido:
eu era, sim, uma rosa.

Conto publicado no livro
Felicidade Clandestina, Ed. Rocco

Clarice Lispector - biografia


Clarice nasceu em Tchetchelnik,
na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920.
Veio ainda bebê para o Brasil, onde seus
pais levavam uma vida de comerciantes
judeus pobres, primeiro no Nordeste,
depois no Rio de Janeiro. A partir
de 1939, já na Faculdade de Direito da
Universidade do Brasil, trabalhou como
tradutora e secretária. No ano seguinte,
tornou-se redatora e repórter
da Agência Nacional, iniciando sua
carreira jornalística.
Em 1943, Clarice terminou o curso
de Direito, casou-se com o colega de
faculdade e futuro diplomata Maury
Gurgel Valente e publicou seu primeiro
romance, Perto do Coração
Selvagem. No ano seguinte, o
casal se mudou para
Nápoles. Na Europa,
Clarice terminou seu
segundo romance,
O Lustre, e trabalhou
num hospital, cuidando
de pracinhas feridos.
Em 1946, o casal estava
na Suíça, onde Maury era
diplomata. Em Berna, ela
teve seu primeiro filho, Pedro
(1948), e terminou de escrever A Cidade
Sitiada. Trabalhava com a máquina no
colo, para cuidar da criança.
Na década de 1950, Clarice e a
família fixaram-se nos Estados Unidos,
onde nasceu seu segundo filho, Paulo,
em 1953. Seis anos depois, separada do
marido, voltou ao Brasil com os filhos
e retomou as traduções e o jornalismo.
Em 1960, com 40 anos, lançou seu
primeiro livro de contos, Laços de
Família. Em 1961, publicou o romance
A Maçã no Escuro, considerado o melhor
livro do ano. Seguiram-se os contos de
A Legião Estrangeira e o romance
A Paixão Segundo G. H., ambos de 1964,
aclamados pela crítica e pelo público.
Em 1966, Clarice sofreu um duro
golpe: adormeceu com um cigarro
aceso e um incêndio no quarto
provocou queimaduras por todo o seu
corpo. Sua beleza foi atingida, mas não
o seu status de primeira-dama das
letras brasileiras. Em 1977, lançou
a novela A Hora da Estrela, adaptada
para o cinema. Morreu no mesmo ano
vítima de câncer.


Dos textos


Clarice Lispector mergulha na
intimidade dos seus personagens
e a investiga profundamente, em
busca do que seria o próprio núcleo
existencial dessas criaturas. Utiliza
para isso uma prosa rica em
características poéticas –
sonoridades, analogias, figuras de
linguagem – e a exposição do fluxo
psicológico dos personagens. Muitas
vezes, eles adquirem a consciência
do próprio existir a partir de uma
iluminação repentina produzida por
um fato aparentemente menor. Esse
momento crucial de descoberta de si
mesmo e toda a solidão e as dúvidas
que essa descoberta revela ao ser
humano constituem os temas
recorrentes da ficcionista.
Escrever é, assim, um processo
de conhecimento da realidade
psicológica dos seres, essencialmente
emocional e intuitivo. E por meio dele
se desvendam segredos íntimos, desejos
reprimidos, pensamentos constrangedores,
atinge-se a intimidade mais profunda. Esse
mergulho na alma humana é marca de
muitos prosadores de nossos dias. Lygia
Fagundes Telles, Osman Lins, Ivan Ângelo,
Samuel Rawet, Nélida Piñon produzem
textos que revelam alguma influência dosde Clarice


Dicas de leitura


A Maçã no Escuro
Felicidade Clandestina
Laços de Família
Perto do Coração Selvagem

Para você!


Na casa de Deus


Senhor, quero entender teus caminhos

E reconhecer Tua voz, quando Falares comigo.

Senhor, não permita que eu seja vencido

Pelas tentações que assolam, o mundo onde eu vivo.
Quero beber dessa fonte, e me alimentar da Palavra

Sob Tuas asas se esconde, todo o que ama Tua casa.

Eu amo estar na casa de Deus,
a Ele o melhor dos dias meus
Eu amo dizer: Te adoro, Senhor.
Te entrego o melhor do meu louvor.

Senhor, quero entender os mistérios

Que estão guardados em Ti, e queres revelar a mim.

Senhor, abençoa a minha família

Porque a minha casa e eu, viveremos para te servir.

Quero beber dessa fonte e me alimentar da Palavra

Sob Tuas asas se esconde, todo o que ama Tua casa.

Toda honra, toda glória, majestade e louvor

A Jesus meu Salvador!
Que levou sobre
Si minha culpa, minha dor

Santo, Santo é o Senhor.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Para você


Haiti

Hoje, pela manhã, fazia eu o almoço quando o meu marido ligou o rádio no programa de Geraldo Freire. Não lembro o tema do debate, mas lembro algumas perguntas e respostas. Os entrevistados: um pastor, um professor de história e um espírita.
Bem, Geraldo Freire perguntou ao espírita a causa de terremoto no Haiti. O sujeito começou com aquela história de re-encarnação, falou que para alguns era hora de ir, para depois voltar. Mas voltar, sucessivamente, até alcançar a perfeição total. Falou sobre livre arbítrio. Tudo num clima cinematográfico. Para ele, o entrevistado, o ser supremo não agiu para castigar ninguém. Na verdade, é um acerto de contas, misturado com motivos racionais como aquecimento global, placas tectônicas, etc.
... Silêncio total. Os ouvintes ligaram dizendo ser o sujeito o cara.

O historiador, esse extremamente soberbo, aplaudiu o entrevistado anterior, e começou a explanar sobre o local onde aconteceu o terremoto. As condições do lugar, a história do país, a insustentabilidade ambiental. Enfim, que se tratava de um fenômeno geológico, explicado cientificamente e não através de crenças.

O pastor, lamentavelmente, não soube explanar sobre os desígnios de Deus. E foi massacrado pela força inimiga.

Houve um momento em que eu pude sentir o poder maligno atuando naquele lugar, parecia a roda dos escarnecedores.

O historiador comentou que a Bíblia era uma ilusão, quem poderia acreditar naquilo que estava escrito ali. Que Deus mandaria Abraão matar seu próprio filho? Somente um Deus mau. Afirmou que a Bíblia era somente ira. Um Deus castigador do início ao fim. E esse homem gargalhava, zombava da palavra de Deus.

O pastor tentou argumentar, mas não obteve êxito. No final, pediu para responder a uma ouvinte sobre a prática do jejum, foi anarquizado pelos outros. O historiador disse que o povo do Haiti já estava fazendo jejum forçadamente. O apresentador perguntou sobre fazer jejum de cachaça. O espírita convidou todo mundo para um encontro religioso, ou seja, ecumênico.
Assim terminou...

Em mim ficou uma angústia. Fiz uma oração pelo povo de Deus. Pedi que o Senhor nos dê força e unção para suportarmos o mal.

Queridos, sei que o texto é longo e muitos não o terminarão, mas é preciso saber o que ver, o que escutar e onde pisar. A palavra do Senhor diz “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”. (salmo 1) .
Quantos cristãos , como eu, não têm sido presas fáceis ao trazer a roda de escárnio para dentro de sua casa. Sim! No conforto de seu lar, usando um simples rádio.

O fato é que ninguém respondeu à pergunta do entrevistador: "A causa do terremoto no Haiti? Ninguém sequer questionou as práticas religiosas do Haiti.
Não sou Deus para responder, mas a Bíblia nos diz: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”. Provérbios 14:12 ...

André Góes, mestrando em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Bacharel em Ciências Sociais em seu texto O vudu e suas conseqüências, nos traz informações preciosas:

“Fato que sempre me chamou a atenção em relação ao Haiti é a quantidade de desgraças ocorridas naquele território. Desde o processo de independência – na última década do século XVIII - até a catástrofe ocorrida esta semana, inúmeros fatos no mínimo estranhos – para os olhos de quem está atento também ao “outro lado” – têm destroçado a esperança de quem torce por um Haiti harmônico.
Desde criança sempre me fascinou as imagens relativas aos zumbis e às bonecas espetadas do vodu haitiano. Boa parte das pessoas ainda associam o Haiti à prática da magia negra, eu faço parte desse grupo. Isso se deve ao fato de enxergar os fenômenos ocorridos naquele país não apenas com os olhos do cientista social, mas também com a experiência de quem é versado em estudos de magia e de religião: servi como guardião na Grande Fraternidade Branca e durante alguns anos trabalhei com diversas entidades na Umbanda.
Quando comecei a trabalhar com entidades, minha intenção era curar mazelas espirituais e físicas de pessoas aflitas. Contudo, conforme os anos passaram, ficava mais claro que eu e minha “coroa” nos distanciávamos do trabalho empreendido pelo grupo, na medida em que parte do trabalho da “doutrina” se voltava para outras finalidades, que julgo serem muito discutíveis. Até hoje não sei o que estava por trás das mudanças na linha da "doutrina", o fato é que os adeptos, à exceção de alguns, estavam interessados nas “macumbas”. Saí desse meio pois não estava de acordo com o entendimento comum.
Nos ritos africanos e/ou afrobrasileiros os indivíduos são extremamente individualistas. Ainda que o discurso seja o da união e do anímico, percebi durante esses anos que as aspirações dos praticantes se voltam para a satisfação de vontades particulares, sejam elas a obtenção de favores: destruição de casamentos, morte de pessoas, ganho de causas judiciais, melhoria financeira etc. [...] líderes religiosos que cobram por favores, sacrifícios animais e humanos (sic) e por aí vai. A maior parte de centros e terreiros oferece algum tipo de risco ao praticante e não se dedica a reprodução de práticas minimamente éticas.
Devemos comentar um pouco sobre o vudu e suas proporções. Esta prática não está restrita ao Haiti, porquanto mesmo nos EUA - estados do Mississipi e Louisiania – essa manifestação tem força considerável. O vudu haitiano se origina no sincretismo de alguns antigos ritos do Daomé (Benin) com o catolicismo imposto por franceses, ainda no século XVIII. O resultado disso é uma população que se diz católica (mais de 90%) e ao mesmo tempo adepta do vudu (100% ?). Desde 2003, o vudu é religião oficial do Haiti – a ideia surgiu do ex-padre e ex-presidente Jean Bertrand Aristides.
As cerimonias vudus, assim como a de outras seitas e religiões presentes no Brasil, são compostas por rituais de mortificação, sacifícios de animais, práticas com sangue fresco, incorporações, utilização de fumo e álcool. O período das celebrações é o noturno. Os famigerados bonecos são réplicas de seres humanos: os praticantes dizem que servem para praticar o bem a outrem, no que os relatos de turistas, antropólogos e outros estudiosos discordam – na verdade, as alfinetadas serviriam muito mais para infligir algum dano à figura de uma determinada pessoa materializada no objeto.
Parece óbvio que onde se encontrarem duas pessoas, ou mais, energias, pensamentos, sentimentos e práticas ganharão corpo formando um corpo invisível próprio. Segundo Helena Blavatsky, essa reunião criará algo independente, mais forte que as partes e ao mesmo temo relacionado a elas, pois origina-se da força do grupo: a egrégora.
No processo de estabelecimento da independência e da república haitiana, a segunda na América, muito sangue foi derramado e ódio perpretado. A pobreza e a escravização capitalista também humilharam o povo haitiano colaborando para que hoje, e ainda mais agora após o terremoto, o Haiti conste como um dos Estados mais miseráveis de que já se teve notícia. Adicionemos as pomposas cortes de sangue dos insanos Papa Doc e Baby Doc mais os anos de Aristides, os dois primeiros usaram e abusaram do vudu; o último reverenciou-o oficialmente.
Para o neófito isso tudo é obra do azar. Reúna, no entanto, os elementos geográficos, econômicos e históricos, adicione uma pitada de práticas psico-energéticas extremamente negativas e teremos um resultado perverso.
Pode até haver coincidência, se defirnimos esse sintagma como a incidência de forças para o mesmo ponto, que, nesse caso, condensa o amálgama de disposições nefastas geradas, reproduzidas e reafirmadas por um povo que insiste na prática indiscriminada da magia negra. São diversos fatores, sem dúvida, porém qual é a influência dessa égregora maligna sobre os ocasos haitianos? Enquanto o vudu existir com tanta força, não haverá esforço humanitário que dê jeito no Haiti."

p/ André Góes- sexta-feira 15 de janeiro de 2010

Acredito que esse texto esclarecerá algumas dúvidas.
Humilde opinião
Irmãos a nossa visão é extremamente limitada, em Jó 38, o Senhor o convence de sua ignorância “Depois disso o Senhor respondeu a Jó dum redemoinho, dizendo: 2. Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? 3.Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Faze-mo saber, se tens entendimento."
Finalizarei esse texto deixando àquele professor esta palavra: "Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus." (Mateus 22.29).

Para vocês, queridos irmãos em Cristo Jesus, deixo esta exortação de Paulo:
“...pregue a mensagem e insista em anunciá-la, no tempo certo ou não. Convença, repreenda, anime e ensine com toda a paciência. Porque virá o tempo em que as pessoas não escutarão o verdadeiro ensinamento,mas seguirão os seus próprios desejos. E juntarão para si mesmas muitos mestres, que vão dizer a elas o que querem ouvir. Mas você, seja ajuizado em todas as situações. Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um pregador da Boa-Notícia do Evangelho e cumpra completamente o seu dever como servo de Deus.”

Graça e paz da parte de Deus Pai, e de Cristo Jesus, nosso Salvador.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

PARA VOCÊ


O que ler todos os dias?

“Errais em não conhecer as escrituras e nem o poder de Deus”. (Mateus 22:29).
“O meu povo é destruído por lhe faltar conhecimento” (Oséias4:6). ...
"[...] a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Efésios 6:13-17).

O que ler?



Este Mundo Tenebroso


Ashton é uma pequena e típica cidade americana. No entanto quando um repórter cético e um pastor dedicado à oração começaram a comparar fatos, eles se viram lutando contra um terrível complô da Nova Era para subjugar a população local e eventualmente, toda a raça humana.

Desde 'As cartas do inferno', de C. S. Lewis, não surgiu um romance com tanta perspicácia acerca da guerra espiritual e da necessidade de oração.

O que ler?


Na mira do Inferno, mas sob a proteção de Deus


Todo o cristão está na mira do inferno. O diabo e seus anjos lutam de todas as maneiras para paralisar e destruir o filho de Deus, por meio das “forças espirituais do mal” (Ef. 6:12). Quanto mais fiel a Deus, maior será o poder do inferno contra ele. Contudo, as Escrituras Sagradas ensinam que Deus – o Senhor dos senhores – protege seus filhos. Nada que o inferno trame contra eles é maior que a proteção de Deus sobre Seus filhos, que andam segundo Sua vontade. Toda a Bíblia é um testemunho incontestável da vitória do cristão sobre a malignidade. Este livro é uma analise impressionante e detalhada dos textos bíblicos que revelam a proteção absoluta de Deus na história de seus filhos.

Autor: Rev. Alcides Martins Junior

O que ler?


Uma sucessão de fatos sem sentido ou um conjunto de sentidos sem nenhum fato? Seria essa a vida que você deseja? Qual o tipo de vida que você tem vivido? Muitas pessoas passam anos de sua vida, senão toda ela, buscando um sentido para vivê-la. Alguns o encontram, outros não.No mundo de hoje é fundamental que o ser humano reflita sobre o tipo de pessoa que é e o que está construindo.

Eclesiastes é fruto das reflexões de Salomão, o qual – após viver de tudo e desfrutar de tudo, depois de alcançar o trono de Israel, poder e riquezas – conclui que a vida não passa de “vaidade”. Ed René Kivitz investiga a mensagem deixada por Salomão em busca das respostas que a humanidade persegue desde os primórdios e com rara habilidade desvenda o nó da existência humana. Em sua releitura de Eclesiastes, Kivitz nos mostra que é possível vencer os amargos obstáculos da vida e ultrapassar as barreiras do tédio, do utilitarismo, da morte, da injustiça, da religião, do dinheiro, da pretensão, do crime, da fatalidade, da insensatez, da luta pela sobrevivência, do tempo e da ausência de sentido.

Eclesiastes retrata a vida como ela é, suas facetas mais obscuras, sem floreios e amenizações. Ed René mostra que existe um sentido para nossa existência e permanência na Terra e revela como encontrar esse sentido tomando as decisões certas, atendo-se ao que realmente importa. Ele enfoca que, mesmo com tantas adversidades, a vida vale a pena ser vivida!
(Editora Mundo Cristão)

O que ler?


A visita de Wiese ao inferno durou exatamente 23 minutos, no entanto, ele retornou com detalhes marcantes em sua mente. Depois disso, sua vida foi transformada e ele passou os últimos sete anos estudando a Bíblia para encontrar respostas.
Ele descobriu mais de 150 versículos que se referem ao inferno. Depois da sua experiência inesquecível, Wiese resolveu compartilhar conosco o que descobriu sobre a vida depois da morte.


Descubra a resposta às seguintes perguntas:


• O inferno é um lugar literal?

• Onde é o inferno? Como é lá?

• As pessoas têm corpos no inferno?

• Existem níveis de punição no inferno?

• Como são os demônios?

• Como evitar o inferno?

Amigo Fiel

Quantas vezes procurei entre as pessoas
Alguem que pudesse me ajudar
A resposta que eu sempre recebia,
Era a mesma, sinto muito hoje não dá
E assim o tempo foi passando
Já começava a me desesperar
Quando ouvi uma voz suave me dizendo
Sou teu amigo, estou aqui pra te ajudar

Eu encontrei um amigo, um amigo fiel
O seu endereço fica lá no ceu
A cidade onde Ele mora
É toda cheia de luz
Este amigo que falo, seu nome é Jesus

A felicicidade agora está comigo,
Minha vida foi totalmente transformada
Desde que conheci Jesus Cristo
Tenho tudo não me falta nada
Quando sinto que as coisas não vão bem
Dobro os joelhos e começo a clamar
Jesus Cristo logo em meu socorro vem
Trazendo a resposta pra me dar

(J.Neto)

Quem encontrou Jesus tem certeza de que nada lhe falta. Já não há motivo para correrias.
Supérfluos são supérfluos. Buscamos o essencial a nossa subsistência, temos o que precisamos.
A nossa esperança - Maranata – vem Senhor Jesus!

Maravilhoso


Quão formoso és

Rei do universo

Sua glória enche a terra

E enche o Céu

Sua glória enche a terra

Sua glória enche o céu

Sua glória enche minha vida Senhor


Maravilho é estar em sua presença

Maravilhoso é poder te adorar

Maravilhoso é tocar em suas vestes

Maravilhoso é te contemplar Senhor.

(Os Levitas)
Glória a Deus!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Não te desamparem a benignidade e a fidelidade;
ata-as ao pescoço; escreve-as na tábua do teu coração
e acharás graça e boa compreensão diante de Deus
e dos homens. "
Salomão- Provérbios 3.3

Graça e Paz.

Da amizade entre as mulheres


Dizem-se amigas...

Beijam-se...

Mas qual!

Haverá quem nisso creia!

Salvo se uma das duas, por sinal,

For muito velha, ou muito feia...

Mário Quintana

Umas e outras de Quintana


"Se eu amo o meu semelhante? Sim.
Mas onde encontrar o meu semelhante?"

“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros [...]."

Clarice Lispector

“Maio, mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus. Sua exclamação
talvez tivesse sido um prenúncio do que ia acontecer no final da tarde desse mesmo dia: no meio da chuva abundante encontrou (explosão) a primeira espécie de namorado de sua vida, o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso. O rapaz e ela se entreolharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam.” Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada com queijo.

Ele...
Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:
- E se me desculpe ,senhorinha, posso convidar a passear?
- Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia.
- E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?
- Macabéa.
_Maca, o quê?
- Béa, foi ela obrigada a completar.
- Me desculpe mas até parece donça de pele.
-Eu também acho esquisito, mas minha mãe botou ele por promessa a nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada do que ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo.
- Parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor:
- Pois como o senhor vê eu vinguei... pois é..."
[...]

Clarice lispector. A hora da estrela

Se você não leu ainda A hora da estrela, leia-o. É um texto extremamente sensível. Maravilhoooso!

Clarice - menina de Recife


Felicidade clandestina

Clarice Lispector

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade". Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu nao vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte"com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. As vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. As vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Sublime opinião

É tão bom quando alguém diz o que a gente queria ter dito e não conseguiu. Clarice, no texto acima, mostrou o que sente um verdadeiro amante da literatura. O significado de um livro para quem gosta de ler.
Fui menina pobre como ela. E naquele tempo, nós não tínhamos a Internet. Os livros aqui no Brasil sempre custaram caro. Aos pobres era negado o direito à leitura. A alternativa era conseguir livros emprestados ou comprá-los no Sebo.
Cada livro conseguido era uma dádiva divina. A literatura é divina. Platão dizia que o artista era um entusiasmado. Ao pé da letra entusiasmo a significa cheio de Deus.
É tão bom ler! Quintana dizia que o bom poema não é aquele que lemos, mas o que parece que nos lê.
Se você se encontra na leitura, há prazer! Prazer que a gente só encontra num livro.
O livro tem cheiro. Ah! Eu adoro cheiro de livro. Não importa se velho ou novo. O livro novo tem um cheiro de café fresquinho com pão saído na hora, crocante. O velho tem traços, traças, - lembrei de Machado - marcas, rabiscos.
Livro velho tem flores murchas guardadas... Lembranças de amor...
É tão bom ler!

"Esses padres conhecem mais pecados do que a gente..."

Mário quintana


XVII
"Este foi o período mais feliz da vida de Amaro. Sentia-se realizado e “abençoado” pelo amor correspondido com a menina, por poderem encontrar-se com privacidade e estarem realizando todas as suas fantasias. Sentia-se dominando, pois Amélia obedecialhe, em todos os sentidos, abandonara seu corpo e sua alma nas mãos do pároco.

Era uma sensação nova para Amaro, que fora sempre, até então, dominado. Mostrava-se ciumento, proibia a moça de sair para bailes ou simpatizar com qualquer rapaz.
Ela, por sua vez, admirava-o, idolatrava-o, como a um santo, um ser elevado, superior, completo, maravilhoso. Afinal, tratava-se de
“um imperador de Deus”, ao lado do qual ela podia estar, ela fora a escolhida.


Eça de Queirós - O crime do padre Amaro

"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela...

Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora.

Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho"

Eça de Queiroz, O Primo Basílio

A Fórmula Do Amor


Eu tenho o gesto exato
Sei como devo andar
Aprendi nos filmes pra um dia usar
Um certo ar cruel
De quem sabe o que quer
Tenho tudo planejado pra te impressionar

Luz de fim de tarde
Meu rosto em contra-luz
Não posso compreender
Não faz nenhum efeito
A minha aparição
Será que errei na mão?
As coisas são mais fáceis na televisão.

Mantenho o passo, alguém me vê
Nada acontece não sei por quê
Se eu não perdi nenhum detalhe
Onde foi que eu errei?

Ainda encontro a fórmula do amor

Leo Jaime

Meu melhor amigo é o meu amor



Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...


Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Você é assim
Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...
E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Você é assim...Você é assim...Você é assim...

Um sonho pra mim


(Triblistas - Velha infância)

Alternativa = opção

Essa é mais uma dúvida frequente.
A resposta é não. A alternativa se escolhe entre duas opções. Por isso evite dizer ‘outra’ alternativa e ‘única’ alternativa.
A alternativa é sempre outra.
Ex.: A alternativa foi renunciar.
Não havia alternativa.

Quando estiver diante de mais de duas opções , fique atento e use palavras como opção , possibilidade, recurso.

Você já leu Cora Coralina?


Coração é terra que ninguém vê


Quis ser um dia, jardineira de um coração.

Sachei, mondei - nada colhi.

Nasceram espinhos e nos espinhos me feri.


Quis ser um dia, jardineira de um coração.

Cavei, plantei.

Na terra ingrata nada criei.


Semeador da Parábola...

Lancei a boa semente a gestos largos...

Aves do céu levaram.

Espinhos do chão cobriram.

O resto se perde numa terra dura da ingratidão


Coração é terra que ninguém vê- diz o ditado.

Plantei, reguei, nada deu, não.

Terra de lajedo, de pedregulho,- teu coração.


Bati na porta de um coração.

Bati. Bati. Nada escutei.

Casa vazia.

Porta fechada, foi que encontrei...


Cora Coralina
Sublime opinião
É verdade, Cora. Eu também já bati à porta de corações duríssimos. Trancados e ensimesmados. Casas vazias. Nesse texto encontramos relações intertextuais bíblicas. A parábola do semeador, presentes em Mateus 13 e Marcos 4 , também Ap. 3.20.

conto

Sinestesia

Este é mais um conto de Lygia Fagundes Telles. Aqui, a autora faz uma radiografia moral do egoísmo e da mesquinharia humana. De um lado, o pai enfermo, do outro, a filha que só pensa em si. Na incapacidade de assumir suas falhas, ela transfere a culpa a outros fatores. Percebe-se uma nítida preocupação em tentar se justificar de tudo não só para a empregada como também para si.

À proporção que a conversa entre as duas vai se desenvolvendo, dois sentimentos tomam conta de Tatisa: a angústia com o sentimento de culpa (relacionada ao pai) e o medo (voltado para a reação do namorado caso ela se atrasasse). Nota-se que a personagem prioriza o namorado ao pai

Fonte: Passeiweb

Antes do baile verde

(Lygia Fagundes Telles)


Há um desfile do Rancho Azul e Branco com seus passistas. O negro do bumbo vê duas mulheres debruçadas na janela e faz uma referência para elas. Lu, a empregada, diz que seu homem é mais bonito e que ficou de pegá-la “às dez na esquina”. Ela não quer se atrasar para que ele não fique brabo e daí “não sai mais nada”. Então, Tatisa pegou a empregada pelo braço e arrastou-a até a mesa de cabeceira. O quarto estava escolhumbado. Tatisa tinha que vestir um saiote verde e ainda faltava pregar muita coisa na roupa.

Lu aproximou-se, temendo pelo atraso. Raimundo já deveria estar chegando.

“– Mas não posso perder o desfile, viu, Tatisa? Tudo, menos perder o desfile!”

Lu vê que não vai dar para pregar todas as lantejoulas verdes no saiote, mas mesmo assim prossegue no trabalho. Tatisa está de biquíni, meias, unhas e cabelos verdes: iam a um baile verde, com direito até a nota pela aparência. E ainda faltava mais da metade.

Enquanto Tatisa preocupa-se com o calor e o com o vestido, Lu franziu a testa e disse em tom baixo de voz “ele está morrendo”. Um carro passa buzinando, crianças gritavam e Tatisa continua preocupada consigo. Não deu importância ao que Lu falou.

De repente, Tatisa pergunta, num tom sombrio:

“– Você acha, Lu?

– Acha o quê?

– Que ele está morrendo?

– Ah, está sim. Conheço bem isso, já vi um monte de gente morrer, agora já sei como é. Ele não passa desta noite.

– Mas você já se enganou uma vez, lembra? Disse que ele ia morrer, que estava nas últimas... E no dia seguinte ele já pedia leite, radiante.

– Radiante? – espantou-se a empregada. Fechou num muxoxo os lábios pintados de vermelho-violeta.

– E depois, eu não disse não senhora que ele ia morrer, eu disse que ele estava ruim, foi o que eu disse. Mas hoje é diferente, Tatisa. Espiei da porta, nem precisei entrar para ver que ele está morrendo.

– Mas quando fui lá ele estava dormindo tal calmo, Lu.

– Aquilo não é sono. É outra coisa” Tatisa então se levanta e toma um copo de uísque, preocupada se sua pintura não estava derretendo. “Nunca transpirei tanto, sinto o sangue ferver.

– Você está bebendo demais”.

Já Lu fica preocupada novamente com o atraso, com o pensamento no Raimundo lá na esquina. “– Você é chata, não, Lu? Mil vezes fica repetindo a mesma coisa, taque-taque-taque-taque! Esse cara não pode esperar um pouco?”

Lu lembra que no carnaval passado se divertiu muito; já Tatisa diz que estava na cama, com muita gripe, e que neste queria se esbaldar.

“– E seu pai?” Volta a tomar um gole de uísque:

“– Você quer que eu fique aqui chorando, não é isso que você quer? Quer que eu cubra a cabeça com cinza e fique de joelhos rezando, não é isso que você está querendo?”

“– Que é que eu posso fazer? Não sou Deus, sou? Então? Se ele está pior, que culpa tenho eu?”

“– Não estou dizendo que você é culpada, Tatisa. Não tenho nada com isso, ele é seu pai, não meu. Faça o que bem entender. Lu volta a falar no carnaval passado, mas Tatisa diz que ela já se enganou uma vez.

– Ele não pode estar morrendo, não pode. Também estive lá antes de você, ele estava dormindo tão sossegado. E hoje cedo até me reconheceu, ficou me olhando, me olhando e depois sorriu. Você está bem, papai?, perguntei e ele não respondeu, mas vi que entendeu perfeitamente o que eu disse. – Ele se fez de forte, coitado.

– De forte, como? – Sabe que você tem o seu baile, não quer atrapalhar”. Tatisa se irrita; porém, arrepende-se:

“– Escuta, Luzinha, escuta

– [...] tenho certeza de que ainda hoje cedo ele me reconheceu. [...] uma lágrima foi escorrendo daquele lado paralisado. Nunca vi ele chorar daquele lado, nunca. Chorou só daquele lado, uma lágrima tão escura...

– Ele estava se despedindo”. Tatisa culpa o médico por ter deixado o pai no quarto, sem ela saber tratar de doente. E se indigna com Lu:

“– Se você fosse boazinha, você me ajudava, mas você não passa de uma egoísta, uma chata que não quer saber de nada. Sua egoísta!

– Mas, Tatisa, ele não é meu pai, não tenho nada com isso”.

A jovem abre a porta do armário e se vê no espelho e pede para que Lu não demore, pois à meia-noite virão buscá-la. Então Lu pergunta por que não deixou o pai no hospital, e Tatisa diz que não podem ficar com um doente “que não resolve”. "Ele viveu sessenta e dois anos. Não podia viver mais um dia?”.

Tatisa faz uma proposta a Lu: para que ela fique cuidando de seu pai; ganhará, com isso, um vestido e calçados. Porém, a empregada rejeita. Oferece mais um casaco, mas é em vão. Tatisa bebe mais alguns goles de uísque. Diz que Lu estava enganada, e que o pai estava dormindo, e não morrendo. Então, pegam as bolsas e ficam juntas na escada. Tatisa quer espiar o pai, mas Lu desce as escadas. De repente, Tatisa pede para esperar e também desce rapidamente.

“Quando bateu a porta atrás de si, rolaram pela escada algumas lantejoulas verdes na mesma direção, como se quisessem alcançá-la”.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Conto


Amor

Clarice Lispector


Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida. Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem. No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera. Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera. O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher. O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto. A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego. O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles. Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados. Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida. Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito. A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram. O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa. Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca. Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite. Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico. Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo. A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si. De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho. Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais. Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu. Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber. Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos. Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante. As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno. Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo. Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto. Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o. Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha? Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver. Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão. Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar. Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos. Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos. Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu. Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico. Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado. — O que foi?! gritou vibrando toda. Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo: — Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras. Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago. — Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela. — Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo. Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver. Acabara-se a vertigem de bondade. E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.


Texto extraído no livro “Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 19, incluído entre “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, seleção de Ítalo Moriconi.